No capítulo “Beating the Odds with Beets” presente no livro “A grain of salt”, o autor aponta quais estratégias foram utilizadas pelo time de futebol inglês Leicester – vencedor inédito da Premier League em 2016 – que, segundo as estatísticas, apresentou o menor número de lesões e a maior quantidade de velocistas – James Vardy, camisa 9 do time, alcançou uma velocidade de 35 km/h.
Mas quais foram essas estratégias miraculosas?
Segundo o técnico do time, os jogadores foram submetidos a corridas de 40 metros, exercícios para fortalecimento dos tendões, câmaras de crioterapia e suco de beterraba – por mais interessante que seja a hipótese da câmara de crioterapia, uma revisão da Cochrane demonstra que a prática carece de estudos, não sendo possível afirmar se sua utilização traz benefícios.
Seria o suco de beterraba responsável por esse desempenho extraordinário?
Bom, a beterraba apresenta uma composição única, rica em açúcares, vitaminas – A, B1, B2 e C – fibras, betalaína, flavonóides, saponinas e minerais – Potássio, Cálcio, Magnésio, etc. – contudo, seu constituinte mais estudado para finalidades desportivas é o nitrato (uma molécula cuja composição apresenta Nitrogênio e Oxigênio – NO3).
Segundo o estudo de Allen, J., Giordano, T. e Kevil, C. (2012), a concentração plasmática de nitrato pode ser aumentada – em até 2 horas - por meio do consumo de alimentos fonte. Aproximadamente 25% do nitrato é captado pelas glândulas salivares, sendo também rapidamente absorvida pelo estômago e pelo duodeno, por mais que uma grande parte seja excretada via urina.
Ainda na boca, as bactérias comensais realizam a redução do nitrato para nitrito plasmático e, no estômago, o conteúdo ácido é responsável por converter uma partedo nitrito em NO - este será absorvido como óxido nítrico bioativo e ácido nitroso – enquanto o restante será absorvido pelo intestino e cairá no plasma.
Interessante a teoria, mas e a prática? Há estudos que corroborem a utilização?
Sim, Bailey, S. et al. (2009) realizaram um estudo duplo cego, randomizado com placebo controlado, onde os pesquisadores investigaram os efeitos da suplementação de nitrato inorgânico, na forma de suco de beterraba, e seu potencial com relação ao Vo2 máxe a resistência em exercícios de alta intensidade.
A pesquisa de 6 dias de duração contou com 8 participantes do sexo masculino, não fumantes, praticantes de atividades físicas e que já haviam participado de outros estudos com bicicletas ergométricas. Após a bateria de testes, foi observado que o grupo suplementado com 500 ml/dia de suco de beterraba apresentou uma redução da extração do oxigênio muscular e uma redução significativa no Vo2 pulmonar – vale destacar que este último dado é particularmente importante, visto que, até o momento, não há outras formas conhecidas de reduzir o Vo2 pulmonar, nem mesmo por meio de treinos de endurance.
Igualmente importante, a revisão de Tang, Y., Jiang, H., e Bryan, N. (2011),evidenciou outras finalidades terapêuticas que o nitrato pode exercer, caso dos benefícios cardiovasculares e dacitoproteção (conjunto de processos que auxiliam na manutenção da integridade das estruturas celulares).
Portanto, identifica-se que o consumo de nitrato possa auxiliar no desempenho esportivo.
Referências:
SCHWARCZ, J. Beating the Odds with Beets. In: A Grain of salt: The science and Pseudoscience of What We Eat editora. 1. ed. [S. l.: s. n.], 2019. Cap. 9, p. 39-41.
FLORIEN. BETERRABA. p. 1-2, 1 jun. 2016. Disponível em: https://florien.com.br/wp-content/uploads/2016/06/BETERRABA.pdf. Acesso em: 14 fev. 2022.
KEVIL, C.; GIORDANO, T. e ALLEN, J. Nitrite and Nitric Oxide Metabolism in Peripheral Artery Disease. HHS AuthorManuscripts, p. 217-222, 15 maio 2012. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3360821/. Acessoem: 14 fev. 2022.
BAILEY, S. et al. Dietary nitrate supplementation reduces the O2 cost of low-intensity exercise and enhances tolerance to high-intensity exercise in humans. Journal of Applied Phisiology, [S. l.], p. 1144-1155, 1 out. 2009. Disponível em: https://journals.physiology.org/doi/full/10.1152/japplphysiol.00722.2009?rfr_dat=cr_pub++0pubmed&url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org. Acesso em: 14 fev. 2022.
TANG, Y.; JIANG, H.; NATHAN, S. Nitrite and nitrate: cardiovascular risk–benefit and metabolic effect. CurrentOpinion in Lipidology, [S. l.], p. 11-15, 1 fev. 2011. Disponível em: https://journals.lww.com/co-lipidology/Abstract/2011/02000/Nitrite_and_nitrate__cardiovascular_risk_benefit.4.aspx. Acesso em: 14 fev. 2022.
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